sábado, 1 de outubro de 2011

Textos do Lucas Silveira

Com quem estou ao telefone?
Com a saudade, que há muito não vejo. Ela está chegando, e não parece ter planos de ir embora tão cedo. Eu aguento. Basta que feche os meus olhos e dê play numas poucas horas de filme, e uma mísera foto sem resolução no meu celular. Cá estou eu, do alto do meu sexto andar, perdendo o controle, de novo.
O romance está em apuros.




A tua onipresença nos meus pensamentos parece ter feito o resto do mundo evanecer frente aos meus olhos. Eu consigo facilmente enxergar teu vulto sob a luz dos postes, bem como o teu reflexo ao lado do meu, nas vitrines das lojas. A TV tenta, mas não consegue abafar o som da tua voz, cujo calor provocado pela proximidade da tua boca me fez esquecer do frio que faz lá fora. No lugar de onde venho, sempre faz frio lá fora, e eu levo em alguma parte de mim a lembrança desse lugar.





Acredite, é impossível procurar algo que a gente não sabe o que é. Eu parei de procurar, e te vi sentada ao meu lado na fila de espera por alguma coisa qualquer. Eu procurava alguma coisa que justificasse todas essas palavras que eu cuspo em todas as direções, sobre uma vida que eu sonhava viver. Nada foi em vão. Hoje sei que nem a mais profunda escuridão vai me impedir de enxergar teu rosto, mesmo com os olhos fechados.





Sempre tive sonhos que se repetem. Muitos deles envolvem nuvens e pessoas usando nuvens como meio de transporte. Acordo sempre com vontade de pisar na primeira nuvem que aparecer na minha frente. Elas nunca aparecem. E quando aparecem, estão lá no alto, te fazendo chover em mim. E eu não tenho guarda-chuva. Deixo os pingos percorrerem seu caminho aleatório pela minha pele ou serem absorvidos por fibras, tecidos e cabelos. Mas, na verdade, tudo que eu queria era, pelo menos por um dia, que uma nuvem descesse para me dar uma carona, sair para passear comigo, me levando para onde bem entendesse e, que quando cansada do fardo, me jogasse lá de cima, para chover em cima de ti. ♥





Quando, com um passo, tu ficas dois passos mais distante, é porque ela também está indo embora.
É aí que tu começas a pensar nesses laços invisíveis que nos amarram uns aos outros. Que tamanho eles podem ter? Podem continuar apertados mesmo quando suas pontas já não mais ocupam o mesmo lugar? Sentes um fisgão nos pulsos quando abraças outro alguém?
Livra-te dos laços. Não falo de cortar. Podes desamarrá-los com o mesmo carinho que tiveste quando os tornaste apertados como braçadeiras. Lembra-te de que laços não são algemas.
Agora divide essa corda e presenteia quem tu quiseres com esses pedaços. Eles são pequenos o suficiente para não virarem nós? Perfeito.





Os segundos em que hesitamos, em que fitamos o piso e nossa boca, escancarada, não emite som algum, são justamente o tempo necessário para que transformemos pensamentos em palavras. E nem todo pensamento tem uma palavra feita pra ele. É aí que transformamos dúvidas genuínas em falsas verdades (ou verdades bonitas demais), e essa troca de olhares com as lajotas se faz necessária para que façamos dentro de nossa cabeça todo tipo de simulações.
Eu sempre gostei muito mais das dúvidas. Nenhuma palavra me aterroriza mais do que "sempre". Ela foi inventada por gente que nunca tentou perceber o que se esconde além da curvatura da terra. Certamente os pássaros não a possuem em seu vocabulário. É por isso que eu fico pulando, em movimentos desastrados, tentando ver o que há além do meu horizonte. E essa (in)certeza quanto ao que me espera na próxima esquina é o que me faz caminhar.
Às vezes me pego sabotando a mim mesmo, plantando provas, tudo pra me incriminar. Tudo para estabelecer em mim o meu estado natural, de eterna confusão.





De algumas coisas eu tenho medo. Coisas que eu não temia, das quais hoje fujo. Algumas coisas para mim faziam todo o sentido do mundo, mas hoje são borrões de tinta em um papel-toalha de alta absorção. São desenhos abstratos e sem significado algum. Aí eu faço um pose bem blasé e levo polegar e indicador ao queixo. Penso. Procuro um significado. Não há.
É o passado. São as memórias, as crises e todos esses processos que para nada mais servem, a não ser para catalisarem, acelerarem essas evoluções DIGIMÔNICAS.
Hoje me encontro no estágio 3, eu acho. Do alto de meus quase-23 anos, uma caricatura daquilo que eu sonho ser. Uma segunda linha, mais barata, de um amontoado de sonhos que dinheiro nenhum compra. Poético, diriam uns. Poético é o caralho, digo eu. Não tem metáfora aqui. Não gosto de metáforas, mais. Sendo as relações interpessoais tão complicadas como já são, pra quê piorar as coisas, colocar mais ruído na mensagem? O que eu mais quero, e tenho feito tudo para que essa QUERÊNCIA aconteça é ser compreendido, sem precisar dizer. Sem correr o risco de sujar minha mensagem com as malditas metáforas. As analogias distantes que fingimos entender, sorrindo.
Se eu sair do seu lado e caminhar para um canto de onde eu possa observar tudo, não se preocupe. Não aconteceu nada. Não comigo. Aconteceu com tudo ao meu redor.
Desse canto escuro, te observo, estudando a língua dos olhos.





eram dois olhos. semi-cerrados. eram muitas imagens. centenas, milhares. atrás daqueles olhos. e através da minúscula fresta que havia entre suas pálpebras, pude ver dúvidas. pude ver seguidos momentos de sonhos acumulados, horários a cumprir, problemas a resolver. eu só procurava felicidade naqueles olhos. me esforçava para proporcionar isso, e rápido. queria ser inesquecível. foi aí que envolvi meus braços em volta de sua cintura e, aspirando pelo nariz e boca um suspiro trêmulo, apertei-a como o ar, até que meus cotovelos tocassem minhas costelas. abracei o ar. não havia nada ali.
foi quando olhei para o espelho, que cobria uma parede de gesso, frágil como isopor. me vi abraçado por uma moça. ela era igual a você. atrás das pequenas frestas de meus olhos semi-cerrados, vi sonhos, muitas dúvidas e problemas, também. mas em meus dentes à mostra e uma boca que se estendia pelas bochechas, podia jurar que vi algo escrito. só não lembro o que era.





Quando a gente não tem uma pequena almofada de veludo pra nela acomodar todos os sentimentos que julgamos ser bons, o "melhor de nós", aquele brinquedinho que é tão brilhante que a gente esconde de quase todo mundo, porque é bonito (precioso) demais (podem roubar), e também pra não ficar ligando toda hora, gastando pilha - enfim, me perdi no aposto - (continuando) quando a gente não tem essa superfície macia, a gente fica segurando na mão, dentro de um saquinho, de pano. O tempo passa e tu enches o saco de ficar segurando aquilo, quase esquecendo do quão bonito é aquele brinquedinho, e esquecendo de vez, depois. Tu esqueces porque tu não abres esse saquinho há tanto tempo que nem se lembra mais o que tem dentro. São tantas as distrações...
Aí tu começas a deixar ele no chão. Foda-se. Em qualquer canto, em qualquer lugar. Perde, até, ás vezes. Aí encontra sem querer, no meio das tuas roupas. Aí perde denovo. Nem se lembra que um dia teve esse brinquedinho, nem pra que ele serve. Aí sim.
É aí que chega o ALGUÉM. Aquele (a, es, ou as) mesmo. Nada nesse mundo te faria acreditar que existiria alguém assim, tão... tão... bom. Tu vais ao cinema, ver um filme qualquer junto dessa pessoa, um Almodóvar da vida, no Espaço Unibanco ali da Augusta, que seja. Tudo se torna tão especial, fica tão cheio de significados que você se entusiasma. "Eu te daria o mundo, agora, se eu conseguisse". "Não precisa me dar o mundo, me dá qualquer coisa brilhante, um brinquedinho".
Tu tateias os bolsos. Moedas, palhetas, notas fiscais, preservativos e cartões de visita. Tu perdeste o brinquedinho.
Não adianta procurar, também. Esse é o tipo de coisa que, quando a gente encontra, a gente não devolve. Não tem dono, não tem nada escrito. Faz parte do mundo e tem um pouco do melhor que há em cada um de nós. E brilhava.





Ás vezes me pego pensando. Mas pensando mesmo. Aquela coisa fitar algum ponto em meio ao nada e virar meus olhos para dentro da minha cabeça. E o que eu vejo não é escuro. É mais ou menos como um reflexo de tudo que se encontra do lado de fora, só que diferente. Tem gente que do lado de fora pode parecer insignificante, mas que dentro da minha cabeça, quando meus olhos dão meia-volta, são grandes, moram em um altar e dificilmente consigo entender o que elas dizem, mesmo quando minha cabeça balança repetidamente para cima a para baixo e minha boca sussura um sim rouco, quase sussurrado.
E colocar meus olhos de volta em sua órbita usual dói. Não é um movimento natural. É coisa pra se fazer quase nunca. Mas eu desobedeço, faço toda hora, em qualquer lugar. Dou passos para trás em busca da parede mais próxima e, quando minhas escápulas tocam a parede tão fria quanto minhas mãos, é que reclino minha cabeça para trás até bater, também. Fecho os olhos e eles giram cento e oitenta graus sobre seu próprio eixo. Abro-os novamente. E vejo o reflexo, vejo como são armazenadas as coisas dentro de mim. Vejo como ficou marcado o teu rosto. Aquela primeira vez que te vi. Ouço um trecho da primeira conversa e os risos. Os sorrisos.
É por isso que eu tropeço em tudo que me é colocado na frente como obstáculo. É por isso que muitas vezes eu caio. E me machuco. Não porque sou cego (sou apenas míope - e bem pouco). Eu caio porque não estou olhando para frente. Estou perdido em uma caixa redonda cheia de espelhos e monitores. Perdido em memórias e em pensamentos. Todos esses com inúmeras interpretações e caminhos possíveis, a serem seguidos ou não. Estou sempre perdido. Separando, organizando, hierarquizando. Pra depois juntar tudo entre minhas mãos e jogar pra cima, como se estivesse sorteando envelopes em uma promoção televisionada.
Não vejo teu rosto, nem tua maquiagem, nem teus cílios enormes. Você acha que fico me perdendo em detalhes. Mas olho pra dentro de mim. E é daqui que vejo o que tem dentro de ti.





o tempo que nós tínhamos pra conversar
não foi suficiente pra eu te contar
sobre tudo que pulsava aqui dentro de mim
e quando eu te encarava até você desviar
eu via que não tem nada no seu olhar
que seja indispensável pra eu poder viver
então preste atenção no que eu te dizer
não volte mais, e siga sem olhar pra trás
e, se olhar, não vai me ver
porque eu vou desaparecer
mas vou voltar pra te assombrar
e aí você acordar
do pesadelo e perceber
que a sua vida é assim também
maldição.





eu já falei que não se pode esperar
que a vida te dê tudo que você desejar.
eu já tentei fazer você acreditar
o melhor a fazer tentar parar de pensar
no quanto é ruim não ter chance de se livrar
das garras de um amor que insiste em não te largar.
eu sei que você sempre quis, quis até demais
ter alguém que não te quer.
você tentou ser feliz, tentou ser capaz
de achar aonde ele estiver,
mas não estava lá.
você já pensou em tentar por mais um vez
achar outro alguém que lhe queira também?
não é todo rio que tem um mar pra encontrar
dá pra evaporar e encontrá-lo através do ar.





eu recebi em dobro tudo que um dia eu fiz pra ti!
e hoje eu estou tentando ver se um dia eu vou aceitar...
te perdoar.
não vai ser o bastante pra me ver voltar, depois do que eu sofri
te perdoar.
não vai ser num instante que eu vou voltar
enxugue o sangue dos meus olhos
te perdoar
dormir com a certeza de que eu vou sonhar
te perdoar
mais uma chance pra você me demonstrar
te perdoar
será a solução pra todos os problemas que existem entre nós?
te perdoar
é voltar a ter boas memórias ao ouvir a tua voz.





Será que você já tentou imaginar?
O que eu ia fazer ocupando o seu lugar?
As decisões que você soube fazer...
Será que eu vou ser tão bom quanto você?
Olho pro espelho e vejo alguém sem saída,
Mesmo com problemas bem menores do que os teus.
As cicatrizes de uma vida tão sofrida
São bem mais fortes do que todos os versos meus...
Então, Não deixe a luz se apagar.
Você vai precisar pra encontrar em mim o que há de sobra em você.
Deixa eu compartilhar a vida que você levou!
Deixa eu tentar aprender...
(a propósito,)
Como você fez pra ser assim?





Ah, se você pudesse sentir ontem não consegui dormir, sem ouvir a tua voz cansada, você devia estar aqui pra ver, aqui não pára de chover, desde que você voltou pra casa, se o meu lar for onde houver tua respiração, vou morar na tua voz, ao menos, até o final dessa canção, no teu coração. Ah, será que você vai lembrar? Onde é que você vai guardar o esboço dessa história? Ou vai fazer fogueira pra queimar, e ver que não dá pra fechar biblioteca da memória, você já me conheceu o bastante pra saber, se eu sou ou não bom o bastante pra você, quando acordar, quando a música acabar... eu posso te ouvir, e eu sinto como se nós não estivéssemos a sós. Você está aqui, e eu sei que posso estar em qualquer lugar. As vezes eu sinto que eu sou o ar.





Enquanto meus braços não são capazes de te alcançar, contento-me com a certeza de que estamos sob o mesmo céu, e com a chance de estares olhando para a mesma estrela que eu. Porque nós dois somos um e nada mais vai ser tão especial quanto nós e as nossas decisões. Sinto sua falta, cinco minutos é pouco pra mim, me devolve a minha eternidade. Vou fingir que estou beijando, os lábios que sinto saudade, e esperar que meus sonhos se tornem realidade.







Somos só eu você, e o resto. E lá no lugar onde eu venho, o resto é resto. A não-solicitada opinião do resto, é opinião do resto.
O que eu posso dizer é que sempre procurei por isso, sempre esperei por isso, sempre escrevi sobre isso, sem saber o que era. E somente eu sei quanto tempo levei pra te encontrar. E hoje tenho você aqui, comigo. Que as duas-voltas-e-meia da minha chave sempre encontrem no teu peito o mesmo intenso e inédito sentimento que me fez abrir todos esses precedentes. Eu fecho os olhos e encontro no amanhã nada menos do que a crescente proximidade do teu retorno. E somente as paredes da minha casa são testemunhas do meu sorriso.





Passei a acreditar que a felicidade mora na inexistente fração de tempo em que o passado toca o futuro. Se o passado é distração e o futuro, preocupação, sobra para nós, perseguidores da felicidade, a inexistente ilusão do presente, em que tu és o que tu fazes, e nada nem ninguém mais importa. Isso é felicidade. Agora te concentra e tenta materializar um momento que não acontece jamais. Sorria, pois já é quase dia e tu tens que acordar cedo.





Em parte da minha inocência o amor ainda me parece como uma gaiola aberta,que mesmo aberta eu não quero sair,se algum dia tiver outra maneira de sair de lá espero que eu nunca saiba. Eu ainda escuto os teus sussurros no pé do meu ouvido e mantenho cada palavra guardada em mim.Só queria ver as coisas quando eu já não estiver aqui,quem cuidaria de você como eu cuidei ? Se o céu caísse sobre nós agora,desejaria que alguém me fizesse voltar pra livrar você dessa http://xn--confuso-2wa.Eu ainda sinto o teu cheiro,mesmo você não estando aqui ao meu lado,eu ainda sinto isso,de alguma forma eu preciso apagar certas lembranças suas de dentro de mim,pra quando você se for eu não tenha coragem o suficiente de acabar comigo mesmo,fuja com meu coração,fuja com meu amor,fuja com minha esperança mais apenas não me deixe só,só por essa noite fale todas as coisas que eu necessito escutar ,continue a me segurar como jamais segurou.entrando no mundo real eu podia não pensar nisso, mais eu precisava me lembrar disso todos os dias.
Porque só havia uma coisa na qual eu precisava acreditar pra ser capaz de viver - eu precisava saber que você existia.





De repente, você vê que aprendeu várias coisas. Mas não foi de repente, foi aos poucos. "De repente" não quer dizer que você aprendeu rápido. Quer dizer que você não percebe que está aprendendo, até que aprende.
Você olha pra suas fotos antigas e não consegue se enxergar. Você lembra de frases ditas e atitudes tomadas e as trata como se fossem de um outro alguém. Você aprende que não há amor que não acabe, doença que não se cure, não há estrada sem fim. O caminho, sim, é sem fim. Basta torcer para estar percorrendo o caminho certo. Basta perceber que o seu caminho é errado e esperar pelo próximo retorno. É uma estrada de duas mãos.
De repente, você se sente cansado de tanto aprender quando, na verdade, você está é cansado de estar rodeando de gente que não aprendeu porra nenhuma. Não te preocupa. Todos aprendem, cada um a seu tempo. O problema é que alguns demoram tanto que acabam morrendo antes da primeira aula.
Talvez você tenha aprendido mais que eu, ou até menos, ou então aprendido coisas diferentes, ou matado todas as tuas aulas mais importantes. Não sei mesmo, mas minha única certeza é que eu não concordo com uma vírgula do que você diz.





O passado é insignificante Sim, ele é o espelho da nossa história e conta muito sobre o que somos. Mas o que eu sou depende muito mais do que eu estou fazendo agora, do que das coisas que eu fiz. Nós temos o poder de mudar, a qualquer momento da nossa existência, para melhor ou para pior. A única coisa que importa é o futuro, que nada mais é do que uma página em branco que a gente pode preencher com as tintas que bem entendermos. Tirando das costas o fardo do passado, encontramos nos nossos pés a leveza necessária para saltos no futuro, cada vez mais altos, arriscados, excitantes e, sim, felizes. O presente nada mais é do que o momento em que passado e futuro se beijam. Esse encontro de lábios dura um tempo ínfimo, intangível, mas é suficiente para transformar o agora em história. E como é a minha história? O que é que eu quero ter pra contar?

2 comentários:

  1. Lucas Silvera é ser que me inspira bastante. Quero fazer minhas emoções jorrarem assim...

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